Como os países nórdicos estão enfrentando o coronavírus

16 de março de 2020 9 minutos
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(Atualizado em 25/3/2020, com novas decisões tomadas por Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia.)

Nos últimos dias, os países da Escandinávia têm multiplicado suas ações para enfrentar a crise da Covid-19, infecção respiratória causada pelo novo coronavírus. Os anúncios incluem medidas de saúde pública, mas não se restringem a esse universo: elas vão de fechamento de fronteiras a pacotes bilionários de estímulo à economia, de suspensão das aulas nas escolas a redução das taxas de juros.

Na região, cada país tem enfrentado a pandemia de modo diferente. É fato, no entanto, que nenhum deles considera a pandemia uma fantasia nem os esforços para combater o coronavírus motivados por histeria.

O Scandinavian Way fez um levantamento das medidas anunciadas até esta segunda-feira (16/3) pelos governos escandinavos para enfrentar o coronavírus. Conheça a seguir algumas das principais adotadas até o momento por dinamarqueses, finlandeses, islandeses, noruegueses e suecos.

Dinamarca

As ações da Dinamarca para tentar conter a disseminação do coronavírus e seus efeitos sobre a economia estão entre as mais abrangentes da Escandinávia. Sob alguns aspectos, elas também estão entre as mais restritivas.

Como o Scandinavian Way relatou na última semana, o governo da primeira-ministra Mette Frederiksen anunciou um pacote de estímulo fiscal desenhado para aliviar o caixa das empresas. Em linhas gerais, as companhias ganharam mais tempo para pagar impostos e obrigações trabalhistas. Essas medidas devem dar ao setor privado um fôlego equivalente a R$ 88 bilhões.

Depois desse anúncio, o governo também assegurou o pagamento de 75% dos salários de funcionários de empresas privadas que atuam em setores mais seriamente afetados pela crise do coronavírus. Apresentado no dia 15 de março (domingo), o benefício valerá por três meses e cobrirá valores de até 23 mil coroas (R$ 16 mil). O principal objetivo é evitar demissões em massa: as empresas precisam cobrir os outros 25% da remuneração e se comprometer a não demitir os trabalhadores.

A Dinamarca também anunciou o fechamento de suas fronteiras pelo período de um mês. Desde o dia 14/3, apenas dinamarqueses ou estrangeiros com residência fixa no país podem entrar em seu território. Além disso, as cerimônias de naturalização de estrangeiros foram suspensas porque a lei exige que o processo seja concluído com um aperto de mãos, o que tem sido desaconselhado desde o início do surto; as escolas ficarão fechadas por pelo menos duas semanas; e reuniões com mais de 100 participantes estão proibidas.

Finlândia

A Finlândia esperou um pouco mais que seus vizinhos nórdicos para anunciar suas primeiras medidas de estímulo à economia durante a crise do coronavírus. O quadro mudou no dia 20 de março com a apresentação de um pacote equivalente a € 15 bilhões. Do total, € 10 bilhões devem ser injetados na Finnvera, a agência pública de fomento do país, que repassará os recursos a empresas em dificuldades.

O pacote também inclui a decisão de abolir o prazo que um trabalhador recém-demitido precisa aguardar para solicitar o seguro-desemprego. O benefício foi estendido ainda a profissionais freelancers e microempreendedores individuais que não pretendem encerrar as atividades de seus empreendimentos, mas que estão, por ora, sem conseguir novos trabalhos.

No combate à disseminação da doença, o país aumentou seu nível de alerta no dia 16 de março (segunda-feira) ao declarar estado de emergência. Isso incluiu o fechamento de escolas até 13 de abril e a proibição de reuniões com mais de dez pessoas – antes, o limite de público em eventos era de 500 participantes. A Finlândia também aumentou as restrições para cruzar suas fronteiras. A primeira-ministra Sanna Marin disse no dia 23 de março (segunda-feira) que o país estava preparado para ampliar os limites para a circulação de pessoas, se necessário.

Islândia

A economia da Islândia tem alta dependência do turismo, uma das atividades mais seriamente afetadas pela crise global do coronavírus. Com isso, o país anunciou já em meados de março uma série de medidas para tentar estimular a atividade econômica. Além disso, a capacidade de investimento público deve ser reforçada com a privatização (total ou parcial) do banco estatal Íslandsbanki.

No início das ações, uma das mais drásticas foi o corte da taxa básica de juros em meio ponto percentual, para 2,25%, o menor nível na história. A decisão ocorreu em reunião extraordinária, já que a reunião de política monetária do banco central islandês estava agendada apenas para 18 de março. Mas, no dia 21 (sábado), o governo da primeira-ministra Katrín Jakobsdóttir intensificou ainda suas medidas ao anunciar o maior pacote de estímulo à atividade econômica da história do país. Ao todo, as medidas equivalem a US$ 1,6 bilhão, ou quase 8% do produto interno bruto (PIB) islandês.

A lista inclui compromisso do governo de pagar os salários de trabalhadores do setor privado que estiverem com seus empregos ameaçados. Nesse caso, empresas que estiverem em dificuldades poderão, em vez de desligar seus trabalhadores, reduzir a jornada – e os salários – desses funcionários para 25% do original, com o governo assumindo os outros 75% dos vencimentos.

Entre as ações estão ainda a suspensão, até o fim de 2021, dos impostos sobre a rede hoteleira; para empresas de outros setores, o prazo para recolher tributos foi prorrogado até o ano que vem; a indústria de construção e reparos terá direito a restituir 100% do imposto sobre valor agregado que recolhe (o teto é hoje de 60%); haverá uma espécie de “bolsa família” emergencial, com transferência, em cota única, de valores equivalentes a pouco mais de 10% do salário mínimo local para cada filho com menos de 18 anos que houver em cada família; e os contribuintes do regime de previdência poderão fazer saques mensais de seu saldo pelos próximos 15 meses.

Para o retorno dos turistas, a Islândia já revelou que, quando a crise do coronavírus passar, lançará uma campanha publicitária de promoção do país no exterior. Até lá, o governo decidiu barrar a entrada no país de viajantes de grande parte dos países europeus; a suspensão vale, em princípio, até 17 de abril. Além disso, a partir de 24 de março, estão proibidas reuniões entre mais de 20 pessoas.

Noruega

Desde o dia 16 de março, a Noruega está com suas fronteiras fechadas. Com exceção que valerá apenas para noruegueses e estrangeiros que já moram no país, a medida é restritiva em uma escala que os noruegueses não testemunhavam havia mais de sete décadas: o fechamento das fronteiras não ocorria desde desde a Segunda Guerra Mundial.

Para tentar conter o coronavírus, a Noruega vai precisar andar “a passos muito lentos”, segundo a primeira-ministra Erna Solberg. E a lentidão, que em princípio seria de duas semanas, foi estendida até o dia 13 de abril. A medida soma-se à exigência de que pessoas que viajaram para países de fora da Escandinávia e tenham retornado à Noruega a partir de 27 de fevereiro fiquem em quarentena por duas semanas, mesmo que não tenham sintomas da Covid-19. Creches, escolas e universidades estão fechadas, e eventos como jogos e shows estão suspensos.

Na frente econômica, o país cortou sua taxa básica de juros em meio ponto percentual e, no dia 15 de março (domingo), anunciou um pacote que assegura às empresas norueguesas tanto garantia para empréstimos bancários quanto para a emissão de títulos corporativos. Ao todo, as garantias, que beneficiarão pequenas, médias e grandes empresas, somam 100 bilhões de coroas (R$ 47 bilhões). As empresas também terão mais prazo para pagar os impostos que incidem sobre a folha de pagamento dos funcionários.

Essas medidas tentam estimular a economia norueguesa, que já sofre os efeitos da crise surgida com o coronavírus. No dia 24 de março, o governo revelou que o desemprego disparou no país, atingindo 10,9%, seu maior nível desde os anos 30, período da Grande Depressão. Apenas uma semana antes, ele estava em 5,3% e, em fevereiro, em 2,3%.

Suécia

No dia 16 de março (segunda-feira), o governo sueco anunciou um pacote de estímulo à atividade econômica que custará mais de 300 bilhões de coroas (R$ 150 bilhões). As medidas incluem bancar todas as despesas das empresas com licenças médicas em abril e maio e com os desligamentos temporários de funcionários. As companhias também ganharão prazo extra para recolher o imposto sobre valor agregado (IVA, que incide sobre o consumo).

A ministra das Finanças, Magdalena Andersson, disse que o país está com finanças saudáveis, que permitem bancar as medidas sem comprometer as contas públicas. Segundo ela, a dívida da União está em seu menor patamar desde o fim dos anos 70. Dias antes da apresentação do pacote, o Riksbank, o banco central sueco, já havia revelado a decisão de injetar US$ 50 bilhões nos bancos para que o mercado de crédito não secasse.

Sobre a circulação de pessoas, até o momento, a prioridade do governo sueco tem sido instruir a população sobre formas de prevenção contra o coronavírus e proibir eventos com mais de 500 pessoas. No dia 13/3, o primeiro-ministro Stefan Löfven pediu que os suecos não viajem ao exterior, independentemente do destino.

Mais tarde, no dia 22, em um forte pronunciamento à nação, ele reforçou a mensagem de que o país precisa se manter unido para superar o desafio atual. “Há momentos críticos na vida em que você deve fazer sacrifícios não apenas por seu próprio bem, mas também por aqueles que o rodeiam, por seus semelhantes e por nosso país. Essa hora é agora. Esse dia chegou. E o dever é de todos”, disse ele.

E são todos, sem exceção, com os líderes dando o exemplo. Antes mesmo de a crise do coronavírus se acentuar, o rei Carlos Gustavo e a rainha Sílvia suspenderam um jantar de gala que eles ofereceriam a 150 convidados e que estava previsto para ocorrer no dia 4 de março. Em seu comunicado, o casal real informou que a decisão de adiar o evento foi tomada “pelo bem dos convidados”.

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